No início do século XIX, já se tem registros em documentos que indicam a existência de uma igreja paroquial dedicada a Santo Antônio. Segundo depoimento do engenheiro José Maria da Silva Coutinho, que esteve em Borba em 1860, a cidade era constituída de uma praça regular que tinha no centro uma igreja em construção (Ferrarini, 1981: 35). O engenheiro observa também que mesmo em construção ela já demonstrava sinais de ter sido mal construída, sobretudo o teto.
Outro documento desse mesmo período (1858-1862), o segundo volume dos “Relatórios da Presidência da Província do Amazonas”, já sinalizava a Igreja da Freguesia de Borba como a segunda Igreja da Província, sendo a Matriz de Manaus a primeira. Essa mesma igreja quase cem anos depois, após várias reformas, com a Lei n. 856 de dezembro de 1950 é considerada
monumento histórico do Amazonas e passa a ter direito de receber Cr$ 20.000,00 anuais.
Em 2004, a paróquia adquire a condição de Basílica, ou seja, igreja regida diretamente pelo Vaticano, única na região Norte. Uma estatística da Comarca do Alto Amazonas de 1840, mostra que a população de Borba, não era somente composta por indígenas e brancos. Os negros também faziam parte de forma significativa da população local, porém mais modesta, assim como os mestiços que juntos representavam cerca de 10 por cento da população. A influência negra, pode ser visualizada na festa
principalmente no que diz respeito às danças e à música, em especial em uma “dança dramática”
que se convencionou chamar de “dança do gambá”.
De fato, encontramos a dança do gambá em vários municípios do médio e baixo Amazonas. Dança essa que possui vários elementos comuns com outras manifestações de herança negra, como o carimbó do Pará e o marabaixo de Macapá, entre os quais, os tambores de tronco escavado com pele em uma das extremidades, os cantos no sistema canto resposta, a dança circular, a presença da sensualidade nos movimentos corporais do dançarinos, etc.
Naquela época, identificara a festa como um elemento de agregação das pessoas da comunidade e de comunidades vizinhas, com práticas tradicionais de levantamento do mastro, das orações ao cair da tarde durante a novena (ou trezena, no caso de Santo Antônio), de danças, da procissão náutica da “meia-lua”, das representações do grupo da folia defronte de cada casa e do corte do mastro votivo e da limpeza das casas. Chama atenção, entretanto, para o controle exercido pela igreja católica sobre a festa, contribuindo para abreviar e não raro suprimir muitas dessas manifestações tradicionais devotadas ao santo.
De fato, esta é uma dinâmica presente em festas como a de Santo Antônio de Borba, que ainda mantêm certas práticas tradicionais, como a procissão fluvial, levantamento do mastro, as trezenas, entre outras manifestações de longa permanência na história regional. Mas, por outro lado, observa-se que a festa assume novos traços da contemporaneidade, como o sentido comercial, a dimensão turística de visibilidade e promoção do município, a perspectiva de patrimonialização enquanto bem cultural de uma expressão amazônica e quiçá brasileira, além de questões identitárias de uma cidade com heranças negras, indígenas e de colonizadores lusitanos.