A História

De fato, o que se observa através da documentação existente a respeito das origens da cidade de Borba, é a importância do catolicismo proveniente da constante ocupação desse território por parte de diversas ordens missionárias, tais como jesuítas e carmelitas. Os jesuítas, em 1728 fundaram a Aldeia da Cachoeira de Santo Antonio do Rio Madeira, tendo a figura do Padre João de Sampaio como fundador. A elevação de Borba à categoria de vila, coincide com a expulsão dos jesuítas da Amazônia, alguns sendo até presos e deportados. Porém, a influência religiosa não cessa visto que no lugar dos jesuítas, a missão dos carmelitas começa a ter controle sobre a região (Ferrarini, 1981).
 
No início do século XIX, já se tem registros em documentos que indicam a existência de uma igreja paroquial dedicada a Santo Antônio. Segundo depoimento do engenheiro José Maria da Silva Coutinho, que esteve em Borba em 1860, a cidade era constituída de uma praça regular que tinha no centro uma igreja em construção (Ferrarini, 1981: 35). O engenheiro observa também que mesmo em construção ela já demonstrava sinais de ter sido mal construída, sobretudo o teto.
 
Outro documento desse mesmo período (1858-1862), o segundo volume dos “Relatórios da Presidência da Província do Amazonas”, já sinalizava a Igreja da Freguesia de Borba como a segunda Igreja da Província, sendo a Matriz de Manaus a primeira. Essa mesma igreja quase cem anos depois, após várias reformas, com a Lei n. 856 de dezembro de 1950 é considerada
monumento histórico do Amazonas e passa a ter direito de receber Cr$ 20.000,00 anuais.
 
Em 2004, a paróquia adquire a condição de Basílica, ou seja, igreja regida diretamente pelo Vaticano, única na região Norte. Uma estatística da Comarca do Alto Amazonas de 1840, mostra que a população de Borba, não era somente composta por indígenas e brancos. Os negros também faziam parte de forma significativa da população local, porém mais modesta, assim como os mestiços que juntos representavam cerca de 10 por cento da população. A influência negra, pode ser visualizada na festa
principalmente no que diz respeito às danças e à música, em especial em uma “dança dramática”
que se convencionou chamar de “dança do gambá”.
 
De fato, encontramos a dança do gambá em vários municípios do médio e baixo Amazonas. Dança essa que possui vários elementos comuns com outras manifestações de herança negra, como o carimbó do Pará e o marabaixo de Macapá, entre os quais, os tambores de tronco escavado com pele em uma das extremidades, os cantos no sistema canto resposta, a dança circular, a presença da sensualidade nos movimentos corporais do dançarinos, etc.
 
Naquela época, identificara a festa como um elemento de agregação das pessoas da comunidade e de comunidades vizinhas, com práticas tradicionais de levantamento do mastro, das orações ao cair da tarde durante a novena (ou trezena, no caso de Santo Antônio), de danças, da procissão náutica da “meia-lua”, das representações do grupo da folia defronte de cada casa e do corte do mastro votivo e da limpeza das casas. Chama atenção, entretanto, para o controle exercido pela igreja católica sobre a festa, contribuindo para abreviar e não raro suprimir muitas dessas manifestações tradicionais devotadas ao santo.
 
De fato, esta é uma dinâmica presente em festas como a de Santo Antônio de Borba, que ainda mantêm certas práticas tradicionais, como a procissão fluvial, levantamento do mastro, as trezenas, entre outras manifestações de longa permanência na história regional. Mas, por outro lado, observa-se que a festa assume novos traços da contemporaneidade, como o sentido comercial, a dimensão turística de visibilidade e promoção do município, a perspectiva de patrimonialização enquanto bem cultural de uma expressão amazônica e quiçá brasileira, além de questões identitárias de uma cidade com heranças negras, indígenas e de colonizadores lusitanos.
 

Direto do túnel do tempo. Borba 1966, reforma da igreja de Santo Antonio de Borba numa tarde de verão. Fonte: Arquivo Nacional, biblioteca do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Fonte: CDMAM – Centro de Documentação e Memória da Amazônia. Foto de 1896, igreja católica de Borba. Álbum do commercio de Manaus.

VITRAIS & TRADIÇÃO

A bicentenária basílica de S. Antonio de Borba exibe em seu interior dezenas de vitrais com detalhes e entalhamentos que faz o diferencial. Tradição que vem desde o início da colonização lusitana. O vitral (foto) fica em frente onde está sepultado o primeiro bispo de Borba Dom Adriano, é uma relíquia da época do Cônego Bento e retrata o início da evangelização com os padres jesuítas, o batismo dos indígenas e no alto as bênçãos de S. Antonio.

INTERIOR DA BASÍLICA 

Pintura sacra no teto da basílica de S. Antonio de Borba, anjos celestiais tirando a coroa de espinhos e os cravos das mãos e dos pés, Jesus com a expressão de sorriso (raríssimo na pintura cristã) com a contemplação do Espírito Santo. Arte feita com maestria pelo premiado artista plástico Marius Bell sob encomenda do saudoso bispo D. José Afonso Ribeiro.

CÔNEGO BENTO JOSÉ DE SOUZA …

Nasceu em 2 de maio de 1890, em Cairu-BA (município-arquipélago, formado por 26 ilhas, possui a Igreja e Convento de Santo Antonio, construído a partir de 1653).
Recebeu a ordenação sacerdotal, em Salvador, a 30 de novembro de 1914. Foi cumprir seu ministério em Itajuípe (BA), onde construiu a Igreja do Sagrado Coração e conquistou o povo. Tanto que seus restos mortais foram, por exigência dos itajuipenses, transladados para esta igreja.
 Vindo para o Amazonas no governo eclesiástico de Dom Basílio Pereira (1925-41) igualmente baiano, foi nomeado vigário das paróquias de Maués e de Borba em 1936. Como seria penoso para um sacerdote cuidar de duas comunidades em municípios tão distantes, em distâncias amazônicas. Dessa maneira, Pe. Bento atendeu aos católicos de Maués por dois anos, para prosseguir apenas na paróquia de Borba.
Manteve sua vida religiosa em Borba, onde ficou por trinta anos, onde também construiu a igreja com suas formas atuais, hoje elevada a Basílica e Santuário, devidamente embelezado com a imagem de Santo Antonio de Borba, um elevado labor artístico de Marius Bell.
Cônego Bento José de Souza retirou-se de Borba para Manaus já adoentado, onde faleceu em 1965, aos 75 anos.
 
Créditos: Roberto Mendonça, Blog do Coronel.
Foto: Recorte do Jornal do Commercio, 31 outubro 1971